sexta-feira, 18 de julho de 2008

Desassossego


A grama aconchegava seus passos duros, que mal se desviavam das pedras, dos gravetos e dos caminhos.

Silêncio.

Tudo calmo demais, quieto demais, sossegado demais. Essa pasmaceira insistente causava-lhe repulso, asco. O silêncio só era rompido pelos gritos agudos que reverberavam de dentro de seus pensamentos, confusos e insatisfeitos. Anda! Ouse! Inspirou profundamente e o ar tão puro e só pode sentir cheiro de estagnação, e esse odor lhe causava enjôos. Assim também repudiava os romances mornos e previsíveis, contrastando com o tempo úmido e quente de mais um verão que se delongava preguiçoso por entre as vielas da cidadezinha. Não podia mais. Era demais. Novela durante a semana, feira e caldo de cana aos sábados, missa aos domingos, fofoquices entre as janelas das senhoras gordas e entre os balcões de bares onde se apoiavam os senhores bêbados. O céu excessivamente azul irritava-lhe: límpido, parecia colossal e ainda assim, ainda quando em meio ao ócio punha-se a contemplá-lo em sua grandeza, não conseguia organizar seus pensamentos naquele espaço. Queria mais. Queria ir além das calçadas largas, vazias de gente, cheias de árvores, pássaros e essas coisas tão primitivas. Não queria mais riacho onde escorriam águas frescas. Queria esbaldar-se no mar de seus sonhos.

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